sábado, 21 de maio de 2005

Afinidades


O bom amigo Viktor, sabendo-me interessada por patrimónios esquecidos ou abandonados, no seu blogue apresenta esta bela curiosidade. É destas pequenas coisas que se faz a história de um povo. Das suas vivências, costumes, tradições. Até a arte de acender lareiras ou fogueiras tinha que se lhe dissesse, saber de experiência feito.
da arca dos meus avós
A minha querida amiga Guida Alves, do Vemos, Ouvimos e Lemos, lançou o apelo na blogosfera para que se recolha e preserve verdadeiras relíquias do nosso património "invisível". Peças, objectos, mecanismos, utensílios que a voracidade dos tempos relega para o plano do esquecimento. Este espaço é a resposta da Oficina das Ideias.
Caixa de Acendalhas

A peça que recolhemos e hoje aqui partilhamos terá mais de cinquenta anos de existência e tão longe ela se encontra da nossa vivência actual. Encontra-se num estado de conservação perfeito e faz parte do espólio do Professor Joaquim Roque, que dedicou muito da sua vida à etnografia alentejana. Trata-se de uma caixa de 10 acendalhas produzida pela Fosforeira Portuguesa, S.A. - Espinho. Nela poderemos ler: “Para acender o seu lume em menos de um Fósforo”.

De "VEMOS, OUVIMOS E LEMOS"
publicado por Guida Alves às 12:20 AM 1 opiniões
COMENTÁRIOS
mfc disse...
Lembro-me bem de ver esta caixinha na colecção de fósforos de um tio meu.
Sáb Mai 21, 06:37:00 PM

sexta-feira, 20 de maio de 2005

Esta zona saloia

Nos limites dos concelhos de Mafra e de Sintra ainda é possível - se bem que com algum esforço - encontrar estes pequenos mimos.

Assafora (Sintra)














Casinha de bonecas

Encarnação (Mafra)















Porta principal da Igreja Matriz

Azueira (Mafra)











Um coreto em forma de capacete colonial.


De "VEMOS, OUVIMOS E LEMOS"
publicado por Guida Alves às 11:58 PM 0 opiniões

terça-feira, 17 de maio de 2005

O blogue da Paula



Associada da "Aldraba" e apaixonada pela sua terra natal - Alpedrinha - a professora Paula Cristina Lucas da Silva criou um simpático blogue, que referi por estas bandas, no início de Maio (dia 4). Hoje fui lá e além de comentar várias imagens e legendas, "roubei-lhe" esta fotografia deliciosa, de uma porta (em que rua? qual o número?) que tem um batente e uma aldraba em condomínio.

Um grande Bem Haja à Paula e passem por lá para conhecerem, ou reverem, essa pérola da Beira Baixa, que a marquesa de Alorna designou por "Sintra da Beira"...

http://serraecidade.blogspot.com/

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 22:02 2 comentários

COMENTÁRIOS
J.C.Pereira disse...
Segui a sugestão.Delicioso !!!
17 Maio, 2005 23:15
ganda nóia disse...
Acho que é da porta da Igreja, é impossível não encontrar a Igreja em Alpedrinha.
18 Maio, 2005 14:59

segunda-feira, 16 de maio de 2005

A vida de contrabandista



Acabei de receber, escrito a lápis, um depoimento de M.J. acerca da sua experiência de contrabandista, nos anos 50-60 de miséria que este povo sofreu.
O relato tem por cenário Monsanto, a tal aldeia que os antónios ferros e os salazares pretendiam de "Mais Portuguesa", mas que ocultava, por detrás do granito, dramas familiares como o desta testemunha. Mantive a ortografia e partilho na sua totalidade o documento, que é uma pulsação de vida, um retrato, um libelo:
"A vida de contrabandista é muito dura, sou duma piquena aldeia da Beira Interior; e como sou a filha mais velha e os meus pais eram muito pobres, eu ia quase sempre com o meu pai levar o contrabando a Espanha que era café ensacado em sacos de 30 ou 50 kg fazíamos a viagem sempre de noite às vezes durante o Inverno saímos da nossa terra mais cedo saíamos por volta das 20 horas que já era de noite e chegávamos a Celeiros por volta das 11 horas e por volta das 5 horas da manhã já estávamos em casa de volta, levávamos cerca de 150 kg de café em cada carga, o meu pai tinha um macho e um burro então fazíamos assim até ao rio Erges fazíamos o percurso juntos por aquelas serras cheias de mato atravessámos o rio sempre pelas partes mais baichas e com muito cuidado já que naquela zona era preciso muito cuidado com a nossa guarda fiscal, e com os cravineiros da outra margem do rio a partir daí íamos separados eu ia sempre na frente que caso aparecessem os cravineiros a mim eles não faziam mal ainda me encontrei duas vezes com eles na viagem de regresso mas não me tiraram nada e uma das vezes fartei-me de chorar pois trazia os alforjes cheios de coisas para vender na minha terra tínhamos sempre muitas encomendas. Já o meu pai ainda dormiu uma noite no xilindró em Espanha porque na viagem trazíamos muita coisa, trazíamos muito tabaco, pão espanhol que tinha muita procura na nossa terra, trazíamos roupa sapatos espanhóis que também tinham muita procura, rebuçados chocolates caramelos cacau em pó que era uma delícia loiça de pirex que era moda naquela cultura que comprávamos lá nas cantinas por poucas pesetas e vendíamos lá na nossa terra com algum ganho o que dava menos lucro era o pão mas tínhamos sempre muitas encomendas, eu às vezes zangava-me com o meu pai e pedia-lhe para não o trazer porque ocupava muito espaço na carga mas o meu pai dizia que o pão era para tapar a fome por isso trazíamos sempre as encomendas e como naquele tempo não havia farmácia lá na nossa terra até trazíamos remédios, pomadas para as dores, vitaminas, serugumil, óleo de fígado de bacalhau, pinturas, cintas e até lingerie para algumas senhoras da aldeia que viviam mais abastadas."
O estudo do contrabando, aparte alguns contributos locais, está por fazer. Em Santana de Cambas, Mértola, ainda há pessoas, de muita idade, que não querem falar no assunto. Segundo Santiago Macias, a escassez de investigações acerca daquela actividade ilícita, secreta e por conseguinte geradora de constrangimentos, prende-se com a estigmatização a que estavam sujeitos socialmente os indivíduos que a praticavam. A memória do contrabando permanece ainda como motivo de vergonha para alguns dos intervenientes.

(Fotografia de Vanda Oliveira, de navalhas utilizadas por um barbeiro de Tourém, Montalegre, que para arranjar proventos suplementares, face a uma família numerosa, além da agricultura e da feitura de cestos, também fez contrabando naquela parte da raia transmontana.)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 11:41 4 comentários

COMENTÁRIOS
Manuela Pereira disse...
Gosto muito deste blog e sobretudo gostei bastante deste post. Parabéns!
16 Maio, 2005 18:26
paula silva disse...
A tua caminhada pelas memórias do nosso povo continua fértil e única! Força para estes trabalhos de campo!
16 Maio, 2005 19:23
J.C.Pereira disse...
É preciso guardar as memórias. Todas. Para que continuemos a respirar como povo.um abraçoJCPereira
16 Maio, 2005 21:55
Anónimo disse...
Já não abunda quem conte as façanhas do "arco-da-velha" de quem tinha de enfrentar as travessias da ribeira da Baságueda e do rio Erges para procurar o pão de cada dia na outra banda.Vale a pena ir ouvir os contadores de estórias de memórias desses tempos, testemunhos vivos das nossas terras raianas.Eduardo Serra
30 Novembro, 2005 00:40

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Dois blogues novos


Há dois anos, eu e o Fernando Duarte fotografámos vários batentes e aldrabas em Montemor-o-Novo. Como este - batente em forma de ferradura com suporte de cabeça de cavalo - que ponho aqui para desejar boa sorte a duas novas bloguistas. Descubram-nas!!!


De "ÁGUAS DO SUL"
Postado por oasis dossonhos às 23:37 0 comentários

Objectos biográficos-II


Este cesto foi executado pelo pai de Rosa Branco, de Tourém, Montalegre, Trás-os-Montes.

De quem já falei há uns dias e mostrei as navalhas que aquele senhor utilizou durante 40 anos para fazer a barba aos homens da aldeia.

Agora, do mesmo percurso, outro testemunho:
"São trabalhinhos que ele fazia durante o Inverno, que tinha menos trabalho...E fez este para a minha mãe meter a costura. Havia também cestos muito grandes para as batatas..."

Da caminhada dos homens ficam estas recordações: navalhas, cestos, memórias.

É igualmente a marca do tempo que fica em cada objecto e nos recorda vicissitudes, heroísmos, respirações.

Neste caso, estamos a falar também de alguém que teve de fazer contrabando para sustentar uma família com poucos recursos e vários estômagos para alimentar.

Curiosamente, vivemos numa época em que o sofrimento do passado é apresentado como motivo lúdico.

Na verdade, por todo o lado, junto à raia, dos dois lados da fronteira, surgem os trilhos e as rotas do contrabando, desfrutados por turistas ávidos de conhecer paisagens e estórias de aventura.

Já o poeta dizia
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança.
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades"

(fotografia de Luís Filipe Maçarico)

De “ÁGUAS DO SUL”
Postado por oasis dossonhos às 12:10 3 comentários

COMENTÁRIOS
J.C.Pereira disse...
A sensibilidade e o carinho de quem consegue guardar memórias num mundo de coisas descartáveis.Um abraçoJCPereira
04 Maio, 2005 12:48
augustoM disse...
Luís, curiosamente, vivemos uma época em que o sofrimento do passado "e do presente" é apresentado como motivo lúdico e "florido"Um abraço. Augusto
04 Maio, 2005 14:30
Mendes Ferreira disse...
Poeta não me mimes assim tanto, que não mereço mas gosto é claro, sobretudo depois de ver tanta "maldade" bloguística. Mas adiante, o que interessa é que tb te tenho a ti oh meu poeta dos gestos simples e GRANDES.
04 Maio, 2005 17:59