quinta-feira, 26 de março de 2009

Assembleia Geral Eleitoral da ALDRABA



CONVOCATÓRIA

De acordo com o que está consignado nos Estatutos e Regulamento Interno da nossa Associação, convoco a Assembleia Geral Eleitoral da Aldraba para o próximo domingo, dia 3 de Maio, entre as 15 e as 19h, devendo os associados votar na Rua de S. Pedro de Alcântara, 63, 1º Dtº, local onde funcionará a mesa eleitoral.
As listas concorrentes deverão ser elaboradas e entregues, respeitando as regras estabelecidas, que poderão ser consultadas no site Aldraba Digital - Regulamento Interno
Desejo a todos um bom envolvimento e que da participação de todos resulte o enriquecimento de um processo que se iniciou há quatro anos e quatro meses.

Saudações associativas
a) Luís Filipe Maçarico

sexta-feira, 20 de março de 2009

Apague-se a memória, já



Memória também é património. Imaterial. Muitas vezes com peso e carga de tal monta que é sempre crime ocultá-lo ou apagá-lo.

Há uns poucos anos os doutos e empreendedores cérebros do nosso burgo acharam por bem deitar mão a um edifício que nos reporta a tempos sinistros, porque nele se praticaram dos mais hediondos crimes contra a dignidade e vida humanas - a sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso. Finalidade: converter o edifício de tão sombrias reminiscências em condomínio de luxo. Movimentos cívicos, cidadãos anónimos, vozes de revolta e repúdio, tudo fizeram para que este atentado à memória dos que nunca abdicaram da dignidade dos seus ideais, se transformasse num paraíso para nababos, novos-ricos, à conta - quem sabe? - de algum BPP ou similar. Para alguns poucos a quem não incomodarão certamente todo sofrimento e humilhação que ressumam daquelas paredes. Ou que dormem descansados sobre o que ainda hoje, de uma ou outra forma, levam à prática sobre quem não lhes curva a cerviz. Ou que pura e simplesmente o ignoram.

E eis o resultado de fazer tábua rasa de valores que a todos deviam orgulhar - o Paço do Duque, remetendo para tempos de reis e condestáveis as origens do edifício e omitindo despudoradamente a sua história recente. Para humilhação de todos os que não a esquecem. Para afronta a quem esteve por dentro dela.

Já agora a inevitável ironia: para quando a transformação do Aljube em hotel de charme?

Nota: Apesar de um certo cariz político que se desprende deste desabafo, não poderiamos deixar passar em branco este atentado a um símbolo da resistência a um dos mais negros períodos da vivência da maioria dos portugueses e dos execráveis crimes então cometidos.

MPA

domingo, 15 de março de 2009

A Aldraba no Campo Arqueológico de Mértola






Na presença de algumas dezenas de convidados, nomeadamente os alunos do Mestrado "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo", foi apresentado no passado sábado 14 do corrente por Santiago Macias, professor do CAM e associado da Aldraba, o boletim número 6 da Associação do Espaço e Património Popular.
Marco Valente, Luís Filipe Maçarico e José Alberto Franco também intervieram na sessão, que foi ainda um estimulante momento para a partilha de saberes, quer da mesa quer da assistência.
Notícia e fotografias de Luís Filipe Maçarico

terça-feira, 10 de março de 2009

Boletim nº. 6 - lançamento em Mértola


No próximo sábado, dia 14, por volta das 17 horas, será apresentado o nº 6 da revista "Aldraba", com participação do Marco Valente, que colaborou neste número ("Lendas de Mouros e Mouras da serra do Caldeirão"), o presidente da direcção, José Alberto Franco (autor do texto "Dois companheiros e amigos que nos deixaram") e Luís Filipe Maçarico, presidente da mesa da Assembleia Geral da Associação do Espaço e Património Popular, que neste número fala de "Tesouros de Sabedoria"...


Também neste número a socióloga Vanda Oliveira escreve sobre os "Fofos de Belas: Simplicidade e Tradição", o meteorologista (e vice-presidente da Aldraba) José Prista assina o artigo "Ai minha rica Santa Bárbara", o pintor José Narciso fala do Jardim da Estrela e a professora Helena Catarino (com Fernando Dias e Manuela Teixeira, técnicos da Câmara Municipal de Alcoutim) assinam o trabalho "Jogos Intemporais - Tabuleiros e pedras de Jogo do Castelo Velho de Alcoutim".


O professor Santiago Macias apresentará a publicação.


Esperamos que possam assistir e que a iniciativa vos motive para intervir, participar e, se considerarem estimulante, juntem-se a nós, associem-se a esta ideia.


Já no domingo, ali perto, acontecerá um ritual muito antigo: um porquito é sacrificado e a sua carne manjada... Quem terá o necessário apetite?


MPA

domingo, 1 de março de 2009

Em redor de Sintra e do pecado da gula


O tempo demora-se na medida do nosso vagar. As distâncias encurtam-se para que se percorram sem pressas todos os caminhos. Por uma vez os olhos não são maiores do que a barriga. E eis quase tudo o que nos é indispensável para um dia de saberes, sabores e comeres na região de Sintra.

Manhã cedo, envolvidos pelos restos da neblina que escorre pelas encostas da serra, estamos em S. Pedro de Penaferrim, em plena feira quinzenal. Aqui há de tudo para mercar, disposto a preceito, em bancas ou no chão. Demos uma volta pelas velharias e antiguidades, nunca se sabe que pechincha nos salta aos olhos, irresistivelmente insinuante. Mais além, a roupa de fancaria, os inevitáveis plásticos, as viçosas hortaliças colhidas ainda de madrugada, e eis-nos diante das bancas de queijos, enchidos de fumeiro, pão saloio, bolos… Alinhados sobre tabuleiros cobertos de pano alvíssimo ou espreitando de dentro das cestas de verga, eis os "parrameiros" ou bolos saloios, dobrados em forma de ferradura, aromados de limão e erva-doce. Manhã a meio, vêm mesmo a propósito enquanto encetamos um deambular por entre os encantos de S. Pedro, que nos oferece a múltipla escolha das elegantes e quase centenárias moradias, uma caminhada encosta acima até Santa Eufémia, ou o aprazível adro da Igreja de Santa Maria, onde entrelaçamos amenas conversas ao mesmo tempo que se saboreia as últimas migalhas do nosso bolo saloio.
Ao sabor dos passos e do vagar tomamos o caminho de um outro lugar quase mítico, gastronomicamente falando: a Tala, lugar antigo, de célebre água-pé acompanhando petiscos diversos, e espera-nos um excelente cozido à portuguesa, abundante em carnes de vaca, porco e galinha, apertados entre batatas e couves saborosíssimas, coroado de enchidos vários, qual deles o melhor e mais apetitoso. O apaladado vinho de Colares - ou o da Praia da Maçãs de que poucos se lembrarão - será com vantagem substituído pelo espesso “carrascão” que abunda por estas bandas. Degustamos, saboreamos, apreciamos cada garfada com se fosse a primeira e os paladares fossem irrepetíveis.De novo caminhos fora, porque não demorar os passos espreitando recantos da Vila Velha onde de cada portão pode salientar-se uma aldraba ou um estranho batente, em cada recanto ressalta um antigo azulejo? Na Fonte da Pipa, escutando o rumorejar da água, damo-nos conta de que muito perto, já ali em baixo, é só descer esta rampa e… as queijadas, ah!, as queijadas!, das mesmas que Lord Byron terá saboreado com o seu indispensável chá, decerto na "Lawrence", e os queirozianos Cruges e Carlos da Maia traziam nos bolsos de regresso a Lisboa.

Saciados mas não fartos, descemos até largo da Vila, onde os olhos se perdem nos cambiantes de verde com que a serra nos acena, entrevendo aqui e além telhados e chaminés de velhos palacetes. O sol desce para o seu poente, dilui-se em tons de ouro velho no Castelo dos Mouros e no Palácio da Pena enquanto, como quem não quer a coisa, se faz sentir a brisa vinda das bandas da Praia da Maçãs…Sairemos algures para norte, por entre pedreiras de mármore e alguns, já poucos, pinheiros que ladeiam a estrada, que o mais é mato e carrascal. Negrais é o destino destes pantagruélicos caminheiros, não sem antes espreitarmos de esguelha o fascinante maciço de "lapiás" (aqui voltaremos um outro dia, no pino do sol, para desvendar labirínticos penedos entrelaçados por grossos caules de hera ou espaçados entre si de modo a permitir a plena observação do lugar). O leitão espera-nos, suculento, acabadinho de sair do forno, latejante dentro da pele doirada e estaladiça, com sabores e odores de lenha, alho, pimenta e louro. E, entre cada fêvera a desfazer-se na boca, desta vez o tal Colares tinto será o toque de mestre para que a satisfação seja plena.
Poderia findar por aqui a rota gastronómica deste dia. Mas se, já de volta a casa, a alguém ainda apetecer uma breve ceia, quem sabe se não terá encontrado algures queijinhos saloios, daqueles feitos artesanalmente com leite de ovelha, para juntar a um bom naco do tal pão saloio que certamente não deixou de trazer da Feira de S. Pedro?

Incréus que somos, nem nos lembraremos de um acto de contrição, pois só quando nos apercebermos da subida a pique do colesterol iremos a correr ao médico de família!

MPA