segunda-feira, 26 de março de 2012

XX Encontro da Aldraba, um sábado memorável em Odivelas






































A Aldraba visitou, neste início de Primavera, o património de Odivelas, contactando com os seus artesãos, degustando a gastronomia de uma tasquinha e auscultando a vida associativa.
Com o frio a voltar, mas um sol de partilha nos gestos, assim começámos por espreitar uma exposição magnífica que reconstitui, como um puzzle, aspectos do quotidiano do tempo de D. Dinis, em especial a preparação militar, com réplicas minuciosas de armamentos, e pedaços de artefactos reais, escavados em campanhas arqueológicas.
A poesia do rei Lavrador e outros aspectos relacionados com este actor da nossa História, integram o interesse da mostra, realizada com os recursos actuais da autarquia no Centro de Exposições, onde fomos recebidos e acompanhados pelo antropólogo Miguel Ferreira e pela sua colega Ana.
Estes nossos dois amigos encaminharam-nos depois até aos preciosos estabelecimentos onde ainda trabalham alguns artesãos de Odivelas.
Um dos grandes momentos do Encontro foi a visita ao sr. José Gonzalez Garrido, amolador galego, radicado em Odivelas há décadas. As suas estórias são deliciosas, e a arte do amolador é para todos um poema com sabor de infância...
Na farmácia Joleni, acompanhámos a cuidadosa manipulação de diversas substâncias pelo sr. Miguel Silva, assistindo ao nascimento de uma pomada cicatrizante à base de óxido de zinco.
Visitámos depois o sr. Manuel Resende e o sr. Jaime Coutinho, que foram os alfaiates de Odivelas que, designadamente, fizeram com muito carinho o guarda-roupa da série televisiva "Conta-me como foi..."
Ao longo do casco histórico que percorremos, tivemos ocasião de visualizar a “pequena Alfama de Odivelas” (tal como Alfama tem o Beco da Cardosa, aqui é a Travessa das Cardosas...), e até um mural graffitado que faz lembrar os desenhos da prisão de Álvaro Cunhal!
Após o almoço na tasquinha dos Caracóis, ouvimos três dirigentes da direcção da Sociedade Musical Odivelense, maioritariamente composta por mulheres, entre as quais a presidente.
Foi um dia memorável, pelo que se conheceu e saboreou.
E nunca é demais repetir: O melhor património são estas pessoas, que continuam a produzir um saber-fazer identitário, que nos enriquece.
Em Odivelas usufruímos da sabedoria de um punhado de pessoas vivas, que as televisões ignoram. Porém, é com eles, a começar pelo Miguel Ferreira, que se vivenciam dias à escala humana.
A todos os que asseguram o melhor de ser português, em Odivelas, e nos mais diversos lugares do território nacional, um grande bem hajam!


LFM (texto adaptado e fotos)

domingo, 18 de março de 2012

50 anos depois, a memória da "crise académica" de Março de 1962










Comemora-se agora o cinquentenário da crise académica de 62. Seria redutor ficarmos no agridoce conforto de nostalgias, pois essa data pede-nos sobretudo a pedagogia de um inventário e o dever de um testemunho. Ao olharmos para trás, voltamos a sentir que essas foram horas de aprendizagem de vida e de cidadania, de múltiplos desafios, de inevitáveis testes de carácter. Mas foi também um raro momento de unidade, em que muitos descobriram como construir o triunfo da razão sobre a força, ou da justiça sobre a prepotência.
Vale, por isso, a pena assinalar, sobretudo junto das novas gerações, alguns fundamentos de uma crise académica que lhes parecerão anacronicamente absurdos. Quando em março de 1962 se procurou comemorar o dia do estudante, o regime escondia mal as feridas acusadas pela perda de Goa, pela insurreição em Angola, pelo frustrado assalto ao quartel de Beja, e por vários indícios de desgaste postos a nu pela falhada tentativa do general Botelho Moniz. Tudo isto se começava a refletir numa nova dinâmica do movimento associativo que, em Lisboa, congregava mais de uma dúzia de associações e organismos autónomos, coordenados por uma estrutura informal - a RIA (reunião interassociações). O ato da inauguração do edifício da reitoria dera já um sinal: coubera-me não aceitar, como representante dos estudantes, a censura ao texto que me propunha ler, o que motivaria a ausência institucional do corpo discente na cerimónia. A posterior proibição do dia do estudante atuou como faísca, ao mostrar a face arbitrária do governo, a arrogância do seu comportamento pela recusa do diálogo e pela desautorização do reitor, num atropelo à então débil autonomia da universidade. Depressa se abriram as portas da crise: encerramento de instalações, presença e repetidas cargas da polícia de choque na cidade universitária, maciças concentrações de protesto de estudantes no Estádio Universitário (a que inesperadamente se juntaria o reitor Marcelo Caetano) e na Alameda da Universidade, um justamente famoso jantar de confraternização de estudantes e alguns professores, por convite pouco antes feito pelo reitor devido ao fecho da cantina, o qual originaria nova carga e consequentes correrias. De tanta inabilidade de um governo acossado, surgiria uma inédita unidade de estudantes e professores: demissão do reitor e dos diretores da Universidade Clássica; comunicado do Senado (apenas formado por docentes) defendendo a autonomia universitária; e a decisão, com o magnífico apoio de Coimbra, de iniciar o luto académico. A crise, entre recuos, faltas de palavra e endurecimento do governo, persistiria até julho, e, na barricada universitária, as associações, sob a coordenação da RIA, iriam atravessar dias arrebatados, numa febril cooperação e capacidade organizativa cuja eficácia ainda hoje me surpreende. Foi um tempo repartido por reuniões pela madrugada fora; pela desmontagem das notas oficiosas através de comunicados informativos que a PIDE nunca conseguiu calar; por experiências de alguma incipiente clandestinidade e encontros vagamente conspirativos; pela mobilização de apoios de intelectuais e artistas; e, para vários, o primeiro contacto com a prisão.
Que pedíamos, afinal? Um diálogo sobre a liberdade de pensamento e ação; a real autonomia das universidades; a revogação do estatuto universitário castrador do livre associativismo; um acesso à universidade sem discriminações económicas, políticas, religiosas ou rácicas; uma orgânica universitária com presença dos alunos nos órgãos de gestão.
Passados estes 50 anos, podemos orgulhar-nos de ter encetado a defesa de um caminho que sabíamos se encontrava do lado certo da história. Os fundamentos essenciais dessa universidade que havíamos sonhado são hoje, afinal, os pilares que as instituições universitárias defendem como cioso património, por deles depender a sua manobra de ajustamento a um mundo asperamente mutável e competitivo.
Há 50 anos, separava-nos da livre Europa um regime cada vez mais isolado na sua teimosa resistência à realidade histórica. Olhávamos, então, com inveja para a outra Europa que começara há pouco o seu projeto de integração, paz e prosperidade. A ela chegaríamos uma vez alcançada a democracia, e hoje nela partilhamos as angústias de uma crise que põe em risco os fundamentos políticos e éticos da mais relevante iniciativa diplomática dos nossos dias a que tanto aspirámos.
Olho de novo para trás e para o tempo que hoje celebramos. Insensivelmente, chegam-me rostos, alguns de amigos já desaparecidos, inflamadas discussões, entusiasmos, receios, uma ou outra utopia. Procuro lembrar a extensa contabilidade dos colegas a que a repressão interrompera a normalidade das suas vidas: expulsando das universidades, detendo, embarcando para a guerra colonial ou forçando ao exílio. Bem como, afinal, os momentos vividos há 50 anos, pois deles ficaram amizades, lições e a certeza de que fizemos algo de útil.


Jorge Sampaio (condensação de artigo no “Expresso” de 17.3.2012)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Nomes de localidades em azulejos (cont. 10)





Continua a saga do registo fotográfico das belas placas toponímicas do ACP, colocadas nos princípios do séc. XX à entrada de cidades, vilas e aldeias de Portugal, para fomentar o então nascente turismo automobilístico.

Com este 11º post da nossa série, completamos 82 gravuras reproduzidas, de 79 localidades diferentes em 12 distritos do país.

Tivemos hoje a ajuda da amiga Maria do Céu Ramos, que recentemente se tornou associada da Aldraba, a qual nos fez chegar duas fotografias de placas do distrito de Setúbal, uma que já tínhamos publicado antes (V. Nogueira de Azeitão), e outra, inédita, de Paio Pires, que gostosamente aqui publicamos.

Do blogue “Diário de Bordo”, animado por Teresa Oliveira, reproduzimos com a devida vénia a placa que aí foi publicada de Vila Nova de Ourém (distrito de Leiria), fotografada por Manuel Campos Vilhena.
A Aldraba agradece a estes amigos o seu esforço pela valorização do património das nossas gentes.


JAF

segunda-feira, 5 de março de 2012

“Artesãos e músicos, o outro lado da história” - Odivelas, 24.3.2012










No próximo dia 24 de Março, sábado, em Odivelas, vamos levar a efeito o XX Encontro da Aldraba, com a colaboração da Câmara Municipal de Odivelas e da Sociedade Musical Odivelense.

Às 9.15h, far-se-á a concentração dos participantes em frente do Centro de Exposições de Odivelas, na rua Fernão Lopes (junto aos Paços do Concelho), aonde se efectuará uma breve visita.
Sucedem-se depois os seguintes momentos:
10h-13h - Amolador com estabelecimento fixo (José Gonzalez Garrido, oriundo da Galiza)
- Quinta da Memória
- Memorial
- Farmácia Joléni (assistiremos à manipulação de pomada de óxido de zinco)
- Passagem à beira-rio – futuro centro de interpretação D. Diniz
- Quinta do Espírito Santo
- R. do Souto / Tv. das Cardosas – Sr. Jaime, alfaiate
13h - Almoço na Casa dos Caracóis (que incluirá entrada de enchidos, queijo, pão e azeitonas, um prato principal de polvo à lagareiro, sobremesas da casa, café e bebidas, tudo pelo preço de 12,50€)
15.30h - Sociedade Musical Odivelense - Visita e tertúlia sobre a história e actividades associativas e culturais da Sociedade, com membros da sua direcção
- Apresentação do Caderno Temático nº 1 da Aldraba
17.30h - Café e marmelada branca na pastelaria Faruk

As inscrições para a participação neste Encontro deverão ser feitas junto da Margarida Alves (T:966474189), do Nuno Silveira (T:962916005) ou da Círia Brito (T:969067494).