sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Nomes de localidades em azulejos (cont. 21)



                 
         


Vimos hoje publicitar quatro novas placas toponímicas de azulejos, das que o ACP instalou no início do séc. XX à entrada de localidades portuguesas.

A ALDRABA identificou e fotografou uma placa na localidade de Fontes, no concelho de Santa Marta de Penaguião, e uma outra na localidade de Gralhós, freguesia de Chãs, no concelho de Montalegre, ambas no distrito de Vila Real.

Por outro lado, reproduzimos as placas de Celorico da Beira, no concelho do mesmo nome (distrito da Guarda) e de São Martinho da Cortiça, localidade do concelho de Arganil (distrito de Coimbra), recolhidas por Manuel Campos Vilhena, e que foram editadas recentemente no blogue “Diário de Bordo”.

Com as placas hoje publicadas, atingimos um total de 130 placas diferentes, relativas a 118 localidades, situadas em 13 distritos.

JAF (texto) // LFM (fotos de Fontes e Gralhós)


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

5ª Rota da Aldraba - “Arquitectura funerária – Um caminho diferente”
































Vai realizar-se a 5ª Rota da Aldraba “Arquitectura funerária – Um caminho diferente”, dando continuidade aos percursos pela cidade de Lisboa, em busca de referências que sobressaem seja pelo seu significado histórico, seja pelo exemplo que são da preservação (ou não) do património da cidade.
 
Ao deambular pelas ruas arborizadas do Cemitério dos Prazeres, onde se encontra a mais antiga concentração de ciprestes da Península Ibérica, podemos apreciar jazigos cuja construção se destaca das demais. Aí se encontram os jazigos dos Escritores, dois Talhões de Artistas, o Talhão da Polícia de Segurança Pública e o dos Bombeiros Sapadores. 

Em apoio ao percurso, contamos com o acompanhamento e a intervenção do Dr. Licínio Fidalgo, técnico da Câmara Municipal de Lisboa.

Fica feito o convite a todos os associados e amigos para aparecerem no próximo dia 25 de Outubro (sábado), às 10.00 horas na Parada dos Prazeres (Praça S. João Bosco), junto à porta principal do cemitério.

Para quem se quiser deslocar de transportes públicos, informamos que têm paragem junto à porta do Cemitério e funcionam ao sábado:

Eléctrico 28 (Martim Moniz – Campo de Ourique, Prazeres) ver horários e percurso em:
Autocarro  701 (Campo Grande – Campo de Ourique, Prazeres) ver horários e percurso em:
Autocarro  709 (Restauradores – Campo de Ourique, Prazeres) ver horários e percurso em:

MEG, com fotografias de António Brito




domingo, 12 de outubro de 2014

Telefonema vindo do céu

Como escrevemos neste blogue em junho último, Jaime Gaspar Gralheiro, homem de grande energia e fortes convicções, advogado, dramaturgo e encenador de São Pedro do Sul, deixou-nos nessa altura, vitimado por doença aguda.

Amigo pessoal de alguns de nós, tinha-se tornado também amigo da ALDRABA, para cujo número da revista publicado em abril de 2014 escreveu o artigo "Teatro popular nas Beiras".

A ALDRABA participou na cerimónia fúnebre, realizada no Cine-Teatro Jaime Gralheiro, onde centenas de pessoas lembraram de forma muito emocionada a vida e o exemplo deste homem, inteiramente dedicado à sua terra e às suas gentes.

Entre os que usaram da palavra nessa sessão, destacaram-se algumas individualidades, dois membros do grupo cénico da Universidade Sénior de São Pedro do Sul, e o filho João Carlos, com um testemunho genial de homenagem ao percurso do pai.

Esse testemunho consistiu numa peça ficcional, que o João Carlos nos cedeu, e que vai sair no nº 16 da nossa revista, a ser publicada em finais do corrente mês de outubro:


Quando andava a cumprimentar todos os que tiveram a amabilidade de vir para se despedirem de meu Pai, o meu telemóvel tocou. Era um número estranho. Nunca o tinha visto. Era capaz de ser mais um amigo ou conhecido a dar os pêsames pela partida, a desejar força nesta hora de amargura.

Atendi a chamada:

- Estou sim?

Respondeu-me uma voz longínqua e com forte sotaque:

- Alô. Joao Carlos Graleiro?

- Sim. João Carlos Gralheiro. Quem fala? Que deseja?

- Karl Marx.

Estupefacto, respondi: - Quem?

- Karl Marx, responsável politique do ceo…

Ouve-se uma voz do outro lado:

- Do Céu, camarada Marx. Do céu. Não é do ceo…

- Ok. Do céu dos Comuniste.

Assarapantado pergunto:

- Que deseja?

- Tengo aqui uma camada … não, chamada em lina, iporta águardarr?

Em vez daquelas melodias horríveis que temos de ouvir nestas circunstâncias, surge o belo poema de José Gomes Ferreira genialmente musicado por Fernando Lopes Graça: “Acordai…”

- Estou? Filho? Estás a ouvir-me?

A minha mãe?!...

- Mãe. És tu?

- Sim, filho. Sou eu.

- O que é que se passa?

- Liguei para te dizer que já estive com o teu Pai. Ele está agora a tratar de umas papeladas, mas deve estar a chegar.

Belisco-me. Será que estou bem? Queres tu ver que o vinho que o Carlos me pôs na mesa tinha 17º?

- Mãe. És mesmo tu?

- Sou filho. Olha, diz à Lia que agradeço, do fundo do coração, a forma tão carinhosa como tratou teu Pai. Fiquei muito contente por o ver tão feliz. Faziam um belo par. Chegou cá com um ar de quem vinha a rir de felicidade. Diz-lhe que fique descansada. Que não se preocupe, pois agora ele vai ter-me a tempo inteiro para o encher de carinhos. Já agora, agradece à Srª Conceição. Foi incansável a tratar das coisas da casa. Com tantas mordomias, apaparicaram-no, e agora eu é que me lixo …

Enquanto minha Mãe falava, ao longe ouvia-se uma vozearia cujo volume ia aumentando. Era percetível quer eram várias pessoas que se aproximavam em conversa viva.

- Estou? Joca?

- Sim. Pai! És tu?

- Está calado rapaz. Já me encontrei com o Saramago e com o Álvaro. Estavam ansiosos por explicações que os pudessem levar a perceber como é que os portugueses ainda não puseram o Cavaco, o Coelho e o Portas a andar. Nem tu imaginas como é difícil explicar, aqui, essas coisas terrenas …

- Olha (diz agora meu Pai e minha Mãe), o tempo da nossa chamada está a acabar. Por isso aqui vão uns recados telegráficos. Para a Guiomar: que ela não se esqueça que é a borboleta da família. Para a Joana: que gostamos muito da forma tranquila como encara a vida. Para a Leonor: que, tal como nós, também os bisavôs Manel e Elvira, nos sentimos embevecidos pela sua vida académica e profissional. Para o Rodrigo: que não há impossíveis e quando o homem quer a obra nasce. Para a Ana e para a Maria: que imaginamos o quão difícil deve ser gerir os impulsos que geneticamente nelas explodem, vindo de famílias como sejam a dos Marques da Costa, a dos Paulinos e a dos Gralheiros, que num determinado tempo histórico representaram regimes e sistemas políticos completamente antagónicos. Mas estamos certos que, como se tem vindo a ver, gerido esse conflito e decidido o caminho a trilhar, a vitória é certa. Assim diz à Ana que é um orgulho ver a forma como se está a empenhar na conclusão do seu Mestrado. Diz à Maria que a melhor maneira para vencer uma tentação é desfrutá-la. À tua irmã Bebé diz-lhe que a honestidade, o trabalho e a competência, como ela tão bem tem vindo a mostrar, são as melhores armas para o sucesso. À tua irmã Quicas, diz-lhe que vale mais rir do que chorar e agora ela é a cabeça de casal…. (enquanto isto diziam ouviram-se risos….). Ao Mário, à Zira e ao Zé, diz-lhes que tenham muita paciência. Tu e as tuas irmãs até são boas pessoas, mas têm cá um grau de loucura que só mesmo com muita paciência é que são aturáveis ….

- Leva este recado àqueles que partilharam as artes do palco com o teu Pai e a luta por uma sociedade mais justa, fraterna, solidária, livre e democrática connosco: eles foram a causa da nossa crença na humanidade. Mesmo quando esmorecia, eles mostravam-nos que valia a pena acreditar e lutar. Porque vale sempre a pena acreditar e lutar, mesmo que nem sempre da luta venha a vitória, não há vitórias sem luta. Àqueles que acompanharam o teu Pai pelos Tribunais, diz-lhe que somos nós, os Advogados, a voz dos que não a têm. A toga que vestimos é a capa que protege os mais fracos. Sem nós não há justiça.

E continuaram:

- Para os que se lembraram, apadrinharam e permitiram que o corpo do teu Pai fosse colocado, para este último adeus, no palco do Cineteatro, o nosso mais profundo e sincero agradecimento. Tal como foi dito aquando da homenagem do passado dia 25 de abril, o teu Pai merecia isto e o Cineteatro também.

- Para todos os nossos familiares, amigos, camaradas, colegas e conhecidos, quer os que vieram a este Cineteatro quer os que não puderam vir, para todos e cada um deles, fica o nosso abraço e esta mensagem: façam o favor de lutar para que esta vida, por mais curta que seja, possa ser, para todos, sem exceção, solidária, justa, fraterna e livre. Numa palavra: feliz. Se assim não agirmos, nada nos distinguirá dos outros animais. E nós queremos uma sociedade de Mulheres e Homens com letra maiúscula, íntegros e verticais no exercício pleno da sua cidadania. O que nos alenta é a eterna e inquebrantável esperança de que o nosso exemplo seja a centelha que alumie esse espírito que se quer crítico, irreverente, criativo, reivindicativo e responsável.

- Estou? Alô? Sim….

Do outro lado da linha ouviu-se o silêncio.

JOÂO CARLOS GRALHEIRO